quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

Flags of Our Fathers (As Bandeiras dos Nossos Pais) [2006]



de Clint Eastwood


Classicismo ou academismo?

Clint Eastwood é considerado um dos últimos grandes realizadores clássicos americanos vivos. Verdade ou não a sua carreira recente tem sido recheada de fabulosos filmes que não se adivinhariam nos tempos do homem sem nome da trilogia dos dólares de Leone, ou por alturas dos policiais segundo a fórmula estabelecida por Dirty Harry nos anos 70. Se, na viragem da década de 90 (descontando Space Cowboys) vimos Eastwood a redefinir o thriller policial através da realização segura e bastante minuciosa de True Crime e Blood Work - interessantes estudos de género onde o (anti) herói estava em constante braço de ferro contra a sua própria idade e mortalidade - foi com Mystic River que o realizador americano mostrou todo o seu potencial dramático e narrativo numa história onde um crime brutal é o pretexto para a uma análise profunda e humana a um conjunto de personagens que servem como um caldeirão para temas como a vingança, o arrependimento, o amor, a justiça, a lealdade ou a abolvição num filme contido e de excelente direcção de actores. Esta tendência manteve-se com o premiado Million Dollar Baby que se revelou mais um grande trabalho de caracterização de personagens onde o drama abunda mas o melodrama fica de fora.

Com isto chegamos ao projecto ambicioso de Eastwood de retratar ambos os pontos de vista da batalha de Iwo Jima, que opôs americano a japoneses na Segunda Guerra Mundial. É do primeiro dos dois filmes que aqui se fala, Flags of Our Fathers, que retrata a perspectiva americana daquele episódio histórico. Optando por atravessar várias épocas distintas no tempo, partindo assim da premissa do livro escrito por James Bradley que serviu de inspiração ao filme, Eastwood alterna maioritariamente entre a batalha propriamente dita, e o consequente aproveitamento dos sobreviventes da famosa foto tirada no monte recém conquistado aos japoneses para o esforço de angariação de fundos para a guerra. Este dispositivo narrativo não evita que o filme caia nas armadilhas do filme de reconstituição. E, se não há dúvida que é um filme competente na sua encenação e execução, o resultado final aproxima-se de um academismo de filme de matiné que se agrava no último terço através do recurso abusivo do voice-off, que aparenta ser resultado de um esgotar de ideias para levar o filme a bom termo.

Aparentemente nem sempre um bom tema dá bom material para cinema. Se Eastwood tivesse feito um documentário para o canal História, teria sido dos melhores que já tinha visto. Assim fez apenas um filme competente mas sem chama.

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