quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

Babel [2006]



de Alejandro González Iñárritu


Cinema de entranhas

Há realizadores que nos deliciam com o poder visual das suas obras. E há aqueles, mais cerebrais, que nos fazem pensar. Certos autores fazem-nos sonhar. E outros dão-nos socos no estômago. Viscerais, confrontando-nos com emoções que nem sempre queremos experimentar. É este o cinema de Iñarritu.

Babel completa, em conjunto com Amores Perros e 21 Grams, a chamada "trilogia do sofrimento". Em conjunto com o fiel argumentista Guillermo Arriaga o realizador mexicano desenvolveu um estilo muito próprio, tanto tematicamente como formalmente. Babel, tal como os anteriores, vai-se desenvolvendo como se de um puzzle se tratasse. As quatro narrativas que o constituem desenrolam-se de uma forma fragmentada e, aparentemente, aleatória. Diria que como reflexo das personagens que as habitam onde o acaso das acções provoca o desmoronar de qualquer realidade segura que possa servir como porto de abrigo. Seja a desagregação de uma família marroquina provocada por uma generosa oferta; o desespero de um casal americano resultado de um acidente que tem tanto de inútil como de casual; a impotência de uma babysitter mexicana abandonada num acto de desespero irracional conjuntamente com as crianças que educou desde bebés; ou, na melhor das histórias, o esforço de uma adolescente japonesa em conseguir comunicar, em mais do que um sentido, e conseguir o afecto que tanto deseja (e precisa). É esta vertente que alimenta Babel daquilo que, doutra forma, o tornaria uma experência pouco compensadora: humanismo. Se é verdade que todas as narrativas apresentam uma visão pessimista do nossa existência pretensamente global é também verdade que se encontra uma réstia de optimismo e esperança na história de Chieko. Mesmo com todas as barreiras que se levantam entre ela e os outros.

Em suma, um filme de digestão difícil que confirma Inãrritu como uma força criativa. Mas a fórmula pode-se ter esgotado aqui. Mais sofrimento não, por favor.

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